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Por uma saúde mais digital

Para o líder global de estratégia da consultoria Accenture, o setor de saúde poderia reduzir custos se intensificasse o compartilhamento e análise de dados

Mark Knickrehm, da Accenture

São Paulo – O economista americano Mark Knickrehm lidera há três anos a divisão considerada uma tropa de elite dentro da consultoria Accenture. Chefe global da área de estratégia, ele tem uma longa experiência internacional no setor de saúde. Numa recente visita a São Paulo, Knickrehm falou a EXAME sobre o atraso de hospitais e de planos de saúde na corrida digital — e quanto isso afeta a vida de milhões de brasileiros.

EXAME – Por que os custos com saúde não param de crescer no Brasil?

Mark Knickrehm – Esse é um fenômeno global. Na última década, os custos com saúde em todo o mundo aumentaram de 10% a 15% ao ano, o que é totalmente insustentável. A principal causa é que a medicina não está curando mais doenças. Está ajudando os pacientes crônicos a lidar melhor com a doença e a viver mais anos. Além do alto custo, muitos países enfrentam dois outros problemas: a falta de acesso das pessoas aos serviços adequados e a baixa qualidade.

EXAME – Os avanços da tecnologia não deveriam elevar a eficiência?

Mark Knickrehm – A tecnologia existe, mas, sem a integração das informações dos pacientes, o aumento da eficiência fica limitado. Clínicas, hospitais e planos de saúde precisam trabalhar juntos, com bancos de dados conectados virtualmente.

EXAME – De que forma o compartilhamento das informações diminuiria os custos?

Mark Knickrehm – Nas filas dos prontos-socorros brasileiros, há gente que não deveria estar lá por não ter algo urgente e gente que vai refazer exames de forma desnecessária. Fora isso, médicos e enfermeiros não têm acesso a informações que esclareçam o histórico dos pacientes. Prontuários eletrônicos acessíveis em cada unidade de saúde, pública e privada, mudariam isso e certamente teriam um impacto positivo na redução dos custos do sistema como um todo.

EXAME – O que poderia diminuir as filas nos hospitais?

Mark Knickrehm – Casos mais simples, como dor de ouvido, podem ser tratados em casa pelo paciente, com a supervisão virtual de médicos. Já há iniciativas assim na Espanha e nos Estados Unidos.

EXAME – Por que a adoção dessas inovações é lenta?

Mark Knickrehm – As empresas do setor de saúde gastam muito em máquinas de diagnóstico e em novas drogas, mas pouco em captura, manutenção e análise de informações. Vou dar um dado global. Os bancos e as seguradoras gastam, em média, mais de 8% de seu faturamento com softwares de banco de dados e análise. No setor de saúde, esse percentual não passa de 3%.

EXAME – O número de pessoas que fazem mapeamento genético tem aumentado rapidamente. De que forma isso vai impactar os sistemas de saúde?

Mark Knickrehm – Ter o mapeamento genético é um importante avanço. Mas, para tirar melhor proveito das informações que ele oferece, é preciso conectá-lo a um banco de dados clínico. Com base na análise dos genes e do histórico médico, um sistema de saúde poderá prever, por exemplo, qual a probabilidade de uma pessoa desenvolver uma doença crônica, como o câncer. E, a partir daí, definir o melhor tratamento.

EXAME – Em quais países isso já está acontecendo?

Mark Knickrehm – A Inglaterra e a Islândia estão mais avançadas nessa área. A China também está dando alguns passos. No Brasil quase não há iniciativas desse tipo.

FONTE: EXAME.COM